segunda-feira, 25 de outubro de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Sugestões para Atravessar Agosto
(ajuda do Caio F. pra esse mês que acaba. agora só falta setembro, outubro, novembro e dezembro. 2010 não tem sido um bom ano pra mim.)
Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.
Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos - ou precauções - úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia, categoria originalidade... Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informação para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:.
(O Estado de São Paulo, 06/08/95)
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.
Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos - ou precauções - úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia, categoria originalidade... Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informação para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:.
(O Estado de São Paulo, 06/08/95)
domingo, 25 de julho de 2010
Um post desabafo.
"Porque você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver, o tempo que quiser: até o fim de sua maldita vida, você pode recusar, sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se de seu lugarzinho confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo."
(Caio F. Abreu)
Nunca gostei de quem sai pregando por aí suas teorias e opiniões como se fossem verdades absolutas. Gosto de quem conversa de maneira argumentativa, de quem expõe o que pensa, de quem realmente pensa no que diz e no que faz, mas respeita opiniões diversas. Frequentemente me é dito que sou muito rigorosa comigo e com os outros, e que devo entender que as pessoas tem o direito à liberdade, mesmo quando fazem merda. Quanto ao direito à liberdade, eu concordo, visto a quantidade de merdas que faço e o quanto odeio quando dão pitacos. Mas fico encantada em conhecer pessoas que tentam. Que acreditam. Que têm ideais e que vivem por um motivo além daquele de satisfazer apenas as suas vontades e desejos. Repito: não faço o que deveria, estou longe de ser alguém satisfeita com minhas condutas. Mas sou obrigada a concordar: realmente, sou demasiadamente exigente comigo - e, também, com os outros.
Recentemente me veio um assunto à tona: vegetarianismo. Comer carne nunca foi algo que me desse extremo prazer, mas por mitos como o de que necessitamos da carne para sermos saudáveis ou comodismo, nunca fiz questão alguma de conhecer um pouco mais à fundo. Sempre usei a frase "um dia, viro vegetariana" sem qualquer expectativa maior ou plano de que este dia chegasse. Há pouco mais de um mês, levantei da cama e comentei com minha mãe: "vou parar de comer carne." Eu não tinha argumento, não tinha ideologia, nada que me fizesse ter, de maneira formal, um motivo. Parei e ponto. Comprei alguns livros sobre vegetarianismo e venho pesquisando sobre o tema desde então. Somente após minha opção percebi o quanto ela nos faz pensar e repensar a respeito das nossas escolhas. Escolha do que a gente baseia a nossa vida e o nosso comportamento, escolha sobre o que comemos e a natureza daquilo que comemos e, por fim, sobre o consumo.
Acabei de ter um bate-boca com minha mãe por um motivo bobo. Desde que fiz esta escolha vejo documentários, leio textos e tento me informar mais para poder escolher melhor. Via um vídeo sobre testes em animais no documentário "Não matarás". Minha mãe perguntou a razão de eu ver isso, que é tortura ver algo que incomoda tanto e dói. Acredito, firmemente, que nós só mudamos nosso pensamento e ações quando nos chocamos com algo. Eu, por exemplo, não tinha idéia de como eram feitos testes em animais e de como são desnecessários e sem fundamento.
Por que nos recusamos ver ao que incomoda? Porque temos preguiça de mudar e quando a gente não vê, a consciência não martela o tempo inteiro como somos displicentes. Nós nos recusamos a ver para justificar a não-mudança. É assim no que diz respeito às relações sociais com outros homens e sociedades e é assim com os animais. Mas como já disse, a minha intenção não é convencer ninguém das minhas opiniões. Acho que é uma escolha muito pessoal e íntima, não diz respeito a mais ninguém além da gente mesmo.
Eu só fico incomodada quando vejo que temos potencial e recursos pra fazer melhor e não fazemos por um motivo que vem justificando nossos erros desde muito tempo: dinheiro e poder.
De que serve a bondade?
(Brecht)
1
De que serve a bondade
Se os bons são imediatamente liquidados, ou são liquidados
Aqueles para os quais eles são bons?
De que serve a liberdade
Se os livres têm que viver entre os não-livres?
De que serve a razão
Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam?
2
Em vez de serem apenas bons, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
ou melhor: que a torne supérflua!
Em vez de serem apenas livres, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!
Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio!
sábado, 10 de julho de 2010
"closer"
- o que foi?
- nada.
- hm...
- e você? o que foi?
- nada.
- por que a gente sempre responde 'nada'?
- porque é mais fácil.
- nada.
- hm...
- e você? o que foi?
- nada.
- por que a gente sempre responde 'nada'?
- porque é mais fácil.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
"Se é verdade que apenas podemos viver uma pequena parte daquilo que há dentro de nós, o que acontece com o resto?"
"Era mesmo tão importante - importante de verdade - para ele saber o que os outros pensavam? O fato de não sabê-lo se devia à sua cabeça tresnoitada, ou estaria ele começando a se dar conta de uma estranheza que sempre existira, mas que sempre se mantivera oculta atrás de ritos sociais?"
Trem noturno para Lisboa - Pascal Mercier.
sábado, 5 de junho de 2010
Parece sempre óbvio querer ter orgulho do que fazemos e, por fim, de nós mesmos. Mas com o tempo descobrimos que isso de ter orgulho é um aprendizado e um exercício, tal como o que chamam de felicidade. É por fim pensar "faria de novo", como a teoria do eterno retorno. É reconhecer que cada pedaço da vida - inclusive e, especialmente, o que não foi tão agradável - valeu a pena e teve sua importância.
E isso é tão difícil porque conciliar a vida real com essa que passa na nossa cabeça é um conflito - como já foi dito por aqui e por outras pessoas tantas vezes. Eu vou ter orgulho de mim no dia que for flautista, no dia que tiver minha casa com labrador, varanda e rede, no dia que me envolver com arte e educação da maneira que acredito, quando conseguir argumentar e expor as minhas opiniões, me impor sem ser arrogante, aprender a lidar com mais tranquilidade e menos stress com as pessoas e que tiver tempo pra ouvir e ler pelo menos metade do que tenho interesse. Isso é o mínimo.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
domingo, 30 de maio de 2010
sabe, é muito difícil se dar conta da vida de verdade. a gente cresce nos colégios e nos cursinhos e com os amigos e nas aulas idealistas da faculdade pensando em fazer só o que gosta e o que acredita. mas quando a gente se dá conta da realidade, percebe que não é bem assim. é difícil acreditar em algo. eu queria muito ser que nem as pessoas normais, que vivem e se conformam bem com o mundo do jeito que está. ou no máximo pensam 'é uma droga que seja assim', mas continuam vivendo suas vidas, de bem com o dinheiro que ganham, mesmo com suas dificuldades, mas felizes com seus finais de semana e suas cervejas durante um jogo de futebol. sabe, comigo não é assim. comigo nunca foi assim e no fundo eu nunca estive feliz. eu consigo entender o que os teóricos filósofos dizem sobre felicidade, ou a falta dela. eu também entendo quando por um momento a gente está completo, mas nada faz sentido nesse mundo e é impossível ser completamente feliz. voltei a ter aulas pensantes e isso faz de mim uma pessoa ainda mais insatisfeita. e a pior parte dessa história é que sou uma insatisfeita que não faz nada. as coisas são tão camufladas que não nos damos conta que compactuamos com todo esse sistema, com toda essa maneira de ser do mundo ao nos isentarmos das responsabilidades e posicionamentos e, simplesmente, querer o mais fácil. como eu disse, é muito difícil mesmo conciliar a vida que quer e acredita com a que encontra por aí. e sabe, eu definitivamente não sei o que quero da vida e isso ainda me faz mais inconstante e confusa. estou cansada e a única coisa que sei é que sou muito nova pra isso.
sábado, 29 de maio de 2010
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