domingo, 25 de julho de 2010

Um post desabafo.

"Porque você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver, o tempo que quiser: até o fim de sua maldita vida, você pode recusar, sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se de seu lugarzinho confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo."
(Caio F. Abreu) 


Nunca gostei de quem sai pregando por aí suas teorias e opiniões como se fossem verdades absolutas. Gosto de quem conversa de maneira argumentativa, de quem expõe o que pensa, de quem realmente pensa no que diz e no que faz, mas respeita opiniões diversas. Frequentemente me é dito que sou muito rigorosa comigo e com os outros, e que devo entender que as pessoas tem o direito à liberdade, mesmo quando fazem merda. Quanto ao direito à liberdade, eu concordo, visto a quantidade de merdas que faço e o quanto odeio quando dão pitacos. Mas fico encantada em conhecer pessoas que tentam. Que acreditam. Que têm ideais e que vivem por um motivo além daquele de satisfazer apenas as suas vontades e desejos. Repito: não faço o que deveria, estou longe de ser alguém satisfeita com minhas condutas. Mas sou obrigada a concordar: realmente, sou demasiadamente exigente comigo - e, também, com os outros.

Recentemente me veio um assunto à tona: vegetarianismo. Comer carne nunca foi algo que me desse extremo prazer, mas por mitos como o de que necessitamos da carne para sermos saudáveis ou comodismo, nunca fiz questão alguma de conhecer um pouco mais à fundo. Sempre usei a frase "um dia, viro vegetariana" sem qualquer expectativa maior ou plano de que este dia chegasse. Há pouco mais de um mês, levantei da cama e comentei com minha mãe: "vou parar de comer carne." Eu não tinha argumento, não tinha ideologia, nada que me fizesse ter, de maneira formal, um motivo. Parei e ponto. Comprei alguns livros sobre vegetarianismo e venho pesquisando sobre o tema desde então. Somente após minha opção percebi o quanto ela nos faz pensar e repensar a respeito das nossas escolhas. Escolha do que a gente baseia a nossa vida e o nosso comportamento, escolha sobre o que comemos e a natureza daquilo que comemos e, por fim, sobre o consumo.

Acabei de ter um bate-boca com minha mãe por um motivo bobo. Desde que fiz esta escolha vejo documentários, leio textos e tento me informar mais para poder escolher melhor. Via um vídeo sobre testes em animais no documentário "Não matarás". Minha mãe perguntou a razão de eu ver isso, que é tortura ver algo que incomoda tanto e dói. Acredito, firmemente, que nós só mudamos nosso pensamento e ações quando nos chocamos com algo. Eu, por exemplo, não tinha idéia de como eram feitos testes em animais e de como são desnecessários e sem fundamento. 

Por que nos recusamos ver ao que incomoda? Porque temos preguiça de mudar e quando a gente não vê, a consciência não martela o tempo inteiro como somos displicentes. Nós nos recusamos a ver para justificar a não-mudança. É assim no que diz respeito às relações sociais com outros homens e sociedades e é assim com os animais. Mas como já disse, a minha intenção não é convencer ninguém das minhas opiniões. Acho que é uma escolha muito pessoal e íntima, não diz respeito a mais ninguém além da gente mesmo.

Eu só fico incomodada quando vejo que temos potencial e recursos pra fazer melhor e não fazemos por um motivo que vem justificando nossos erros desde muito tempo: dinheiro e poder.

De que serve a bondade?
(Brecht)

1

De que serve a bondade
Se os bons são imediatamente liquidados, ou são liquidados
Aqueles para os quais eles são bons?

De que serve a liberdade
Se os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam?

2

Em vez de serem apenas bons, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
ou melhor: que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio!


3 comentários:

Bruno disse...

E aí eu, que ando flertando com essas coisas, comendo carne uma ou duas vezes por semana leio isso e vejo que não tô sozinho no mundo ;)

Bondade. Acho que é uma palavra que pode mudar muitas coisas. Adoro Brecht.

Beijo

Jeferson Cardoso disse...

Não há verdades absolutas.
Talvez o que falta é a caridade. Talvez a caridade seja "esse estado de coisas".
Jefhcardoso do
http://jefhcardoso.blogspot.com

Grasi disse...

Puxa... qtos questionamentos. É de parar p/ pensar mesmo!!
Gostei daqui e passo a te seguir, tá?!
Bjão e um super domingo prá ti.