Dizem por aí que as melhores cartas são as que não são entregues. Mas esta eu entrego. Não sei como, nem quando e nem porquê. Mas um dia será entregue.
Não esperava sentir isso tudo junto. Sequer esperava sentir. Eu me empolgo as vezes e gosto de tentar situações impossíveis, improváveis. Gosto do difícil e do complicado. Não gosto do que se apresenta fácil demais, 'ali' demais, à espera da minha chegada. Eu preciso chegar e procurar e querer tão desesperadamente a ponto de pensar por muito tempo em cada palavra, gesto e ato.Eu preciso tremer e ficar nervosa e querer beber nestea.
A vida me espanta a cada dia. Tive um amigo que me dizia que eu pareço um E.T porque parece que vejo as coisas sempre pela primeira vez. As pessoas me encantam, o movimento da vida [como disse uma vez Clarice] me deixa atordoada. As palavras, as relações humanas, tudo aquilo que é construído com o tempo pelo espaço afora me emociona e arrepia. A cada novo gesto e espera do que virá, o pensamento do que será feito, tudo leva à reflexão e sentimento exacerbado. Por isso escrevo: para transbordar.
"Apesar de" [mais uma vez, Clarice] deve-se viver. "Apesar de" as relações se fazem e desfazem, num movimento incontrolável pelas forças humanas. Humberto Gessinger disse certa vez que só acreditava naquilo que era inevitável. Eu também acredito. Porque apesar do esforço que fazemos, apesar da procura obstinada por certas situações e pessoas, permanecem as que devem permanecer e se vão as que devem ir sem maiores explicações. E é justamente isso que me faz doer e me faz ter medo: a falta de explicações e a partida das pessoas que poderiam ficar.
"Apesar de" as pessoas deveriam ficar nas nossas vidas, acrescentando e nos deixando acrescentar algo à vida delas. "Apesar de" as coisas deveriam mudar e permanecer as mesmas ao mesmo tempo e "apesar de" eu não deixo de lamentar cada ausência.
Tenho convicções, crenças, expectativas, esperanças, amores, paixões, tudo misturado, junto, entrelaçado e confuso dentro de mim. Por isso não sei definir sentimentos. Sei que sinto e é o suficiente. Mas intensidade transcende definição, e por isso não sei dizer o que é, muito menos como é.
Tenho convicções, crenças, expectativas, esperanças, amores, paixões, tudo misturado, junto, entrelaçado e confuso dentro de mim. Por isso não sei definir sentimentos. Sei que sinto e é o suficiente. Mas intensidade transcende definição, e por isso não sei dizer o que é, muito menos como é.
Existem pessoas que vale a pena conhecer "apesar de". Apesar do que veio e do que virá. Apesar de expectativas frustradas ou não - se é que, de fato, elas existem. Apesar da falta de tempo e de coragem e de tudo junto. Apesar do que foi falado, dos silêncios por trás disso tudo e do que nunca será dito. Tenho vontade de conhecer os detalhes, de falar e de ouvir e de, enfim, saber um pouco mais. Cada pessoa que entra na nossa vida acrescenta, nos ensina, nos emociona nos momentos mais simples e despercebidos por elas mesmas. E são todas essas coisas que nunca serão ditas. E são todas essas coisas as mais importantes.
Eu não sei aonde quero chegar - nem sei se queria chegar a algum lugar. Sei que mais do que nunca pensei na frase de Vinicius: "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Só espero que o tempo engatinhe - do jeito que eu sempre quis - e que dê espaço pra saber mais.
4 comentários:
Honestamente, isso foi uma das melhores coisas que já li na minha vida.
Te indiquei um prêmio, Cissa.
Beijo
ou seja, Vc é tdo isso!
Eis que as cartas são tão necessárias... tenho lidas muito ultimamente, só é escrevendo cartas que nós descobrimos como "tudo pode ser dito" (Kafka).
E eu vejo nas suas palavras tantas verdades sutis, e a q me capturou foi sobre a intensidade transceder a definição, tanto quanto o silêncio que todos carregamos, as palavras q nunk serão compartilhadas. =D
Fico agradecido pelo seu comentário lá no meu cantinho, tenho lembranças suas lá do Depósito de Idéias. =D
Aparecerei aqui muitas mais vezes.
bjOOs
A Sensibilidade é uma carícia que a Vida nos faz. Ela tem lhe acariciado muito, moça.
Abraço!
Como de costume, me identifiquei bastante... (como na legenda de uma das suas fotos: tudo que é meu tem um bocado de alguém). Mas creio que as cartas não-entregues ficam presas na garganta feito espinha de peixe. É quase cruel, tanto ao destinatário quanto ao remetente.
E um brinde pela atualização ;)
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